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Saturday, August 22, 2015

Muffins Queimados

Três ovos, um litro de suco de fruta, açúcar, um pacote de café... Eram os ítens que eu tentava mentalmente me repetir a fim de não esquecê-los. Pouco antes daquele momento eu resolvi fazer alguns 'muffins' quentinhos. Não sei exatamente o equivalente dele na língua portuguesa. Porém, tem a aparência dum bolo miniaturizado, com o corpo mais compacto, menos esponjoso que o de um bolo, mas sim saboroso! Bom, considero-me um formiguinho. Gosto muito de comer coisas doces como bolos, tortas, panquecas, pasteis, etc. Também gosto de bancar de chefe da cozinha e mexer formas contendo massa no forno para, depois de cozida, gozar o produto que ainda esteja fumegando, esperando ser consumido pelo criador mesmo dele ou pelos que também gostem de tais comidas, espalhando por toda a cozinha seu aroma bem gostoso e convidativo. Já fiz antes muitas panquecas. São muito mais simples. Também fiz um bolo de banana, com o auxílio de minha mãe. Essa era a primeira vez que eu fiz 'muffins', sozinho. 

Com os ingredientes completos e utensílios preparados, pus-me a criar aquela sobremesa, ou lanche, dependendo do quando a gente o coma. No meu caso foi um lanche pois foi avulso, separado de outras refeições. Com a ajuda do livro de receitas, eu trouxe tudo que era necessário para fazer 'muffins' perfeitinhos à mesa de jantar. Comecei com os secos e depois os molhados. O processo geralmente consistia em combinar todos os secos numa tigela e os molhados noutra. Não sei muito sobre cozedura então nunca entendo o porquê da separação dos ovos da farinha, do azeite do fermento em pó, e assim por diante. Por que tenho que pegar e usar dois recipientes, um para os ingredientes secos e o outro para os molhados? Às vezes, devido à minha preguiça talvez, pego a vontade de ignorar esse detalhe importante, cuja importância não conheço, e ir botando num tigelão os ingredientes todos ao acaso! Felizmente não foi assim que aconteceu porém. Introduzi cada ingrediente na ordem descrita no livro. Sem desvio.

Naquele tempo a dúvida de que não iria dar certo o que eu pretendia cozer continuava a bater-me. Como se eu soubesse que houvesse algo errado no que eu estava fazendo. Não sei o que me fez prosseguir com a cozedura. Seria por meu forte desejo de comer esse tipo de refeição naquele dia, ou por minha fome? Muitas vezes estou com fome à tarde, mas tento não comer por alguma razão. 

Prosseguir apesar da dúvida. Não acha isso um pouco estranho? Não deveria! Pois eu já soube do que estava errado. Foi a falta de forno! Mas sem problemas. Eu iria assar os 'muffins' na velha torradeira. Afinal a temperatura era igual em ambos o forno real e o 'forno improvisado', eu acreditava. Eu conseguiria a mesma qualidade com a torradeira quanto com o forno, eu acreditava. Iria dar certo assar na torradeira assim como no forno. Já estando mais confiante, ousei fazer mesmo sem forno. Era irresistível. Ninguém iria deter-me.

Bom, já acabei de adicionar os secos aos molhados. Mas eu continuava a mexer com a minha mão esquerda, a que tinha mais força, a massa bem seca. Eis aí, eu achava outros dois erros! Meu Deus! Não havia uma batedeira elêtrica em casa, tinha que bater à mão até me cansar. E a consistência da massa. Ela estava seca e quebradiça que me deu a impressão de que fosse a massa para cookies ou bolachas! Mas eu não podia fazer nada. Não podia refazer. Era difícil. Tinha certeza que era impossível segregar cada ingrediente que compunha a massa e começar tudo outra vez! Eu somente podia fazer o próximo passo que era de encher a forma de massa e depois colocá-la para dentro do forno. Ai, quis dizer torradeira! 

Em seguida, eu e a forma nos aproximamos dela e ao puxar a portinha daquele aparelho eu podia sentir que estava quentíssimo, que fosse capaz de queimar gravemente o dedo de quem quer que tocasse nela. De algum modo, alegrou-me saber que estava à temperatura propícia. Aumentou a minha esperança de suceder com a cozedura. Bom, com muita cautela para não me chamuscar meti a forma dentro. E uma vez ela estava no lugar, fechei a porta e iniciei a contagem de minutos. Se dizia no livro assar até quando o 'muffin' estaria dourado e o interior dele estaria limpo, ou seja, menos molhado. Um palito sairia limpo depois de ser cravado nele. Então se podia não seguir estritamente o tempo de assar o lanche, o que eu fiz!

Mesmo a uma boa distância do aparelho eu sentia o cheiro muito bom dele emanando pela fresta! Fazia com que fortalecesse meu desejo de comê-lo. Eu não via a hora! Já queria muito tirar da torradeira e gozá-lo. Mas não fiz! Eu não queria cometer um outro erro. Se eu removesse tão cedo, eu comeria cru. Seria ruim. Até minha barriga não iria querê-lo cru! Então esperei uns minutos mais, sem olhar no relógio, sentado à mesa do jantar, sem deixar a cadeira! E enfim chegou o minuto de já pegar e colocar os 'muffins' na mesa para esfriarem. Mas nossa! Queimaram-se!

Fiquei à espera um pouco mais tempo para o calor daquelas criações na forma ir-se ou dissipar ao ambiente ainda mais. Depois de não-sei-quanto tempo os 'muffins' ficaram menos quentes, ao ponto de dar para segurar com as mãos e comê-los sem machucar a língua ou os lábios. 

Ainda bem que nem todas as partes sofreram queimadura. Apenas as superfícies de todos os 'muffins'. E que sorte foi por serem apenas queimaduras leves, algo que era comível. Quanto ao cheiro, era tão forte que quase me afoguei até. Era remanescente de café, mas distorcido. Distorcido porque, além do de café, tinha outros aromas, muitos dos quais não conseguia reconhecer por mais que eu tentasse. Mesmo assim continuei meu experimento culinário. Já estava na fase de provas, tanto do sabor quanto da textura. 

Com a ajuda dum garfo, coloquei um pedacinho na boca. Nossa! Queimei-me o céu da boca! Não pensava que ainda fosse quente. Mas calma aí! Minha boca não ficou ferida. Sou sempre assim: queimo a boca ao comer algo recém-cozido, porque não tenho uma paciência muito longa quanto a isso! É porque considero-me uma boa boca, um que gosta de qualquer tipo de comida. Anseio-me por todas as espécies de comida, sem escolher o que comer. Após tomar o primeiro pedaço não consegui sentir bem a textura. Talvez fosse pelo calor que dominou a sensação de textura. Mas após o segundo... Meu Deus! Não era certa a textura. Absolutamente não era assim a textura de um 'muffin'! Com certeza não! Era mais semelhante à de um cookie. Eu podia declarar que era falha. Tudo que eu fizera foi falho. Eu queria me render e fazer voto de nunca mais atrever-me assar no forno. Apesar de tudo, o que me consolou era o sabor. Uma verdadeira consolação, graças a Deus! Foi saboroso! A salinidade combina com a doçura. Não foi insípido, nem muito salgado. Não sou fã de comidas cheias de sal porque, além da preocupação com a saúde, não gosto da sensação que dá à boca. Como se a minha boca fosse aos poucos ser queimada pelo sal.

Bom, foi uma boa experiência fazer 'muffins', embora não ótima. Houve alguns passos na receita que ignorei ou não fiz corretamente. Por exemplo, usar os utensílios devidos, medir os ingredientes com exatidão, cozer à temperatura exata, entre outros. Contudo não deixarei que esses fracassos me impeçam de cozer com fornos novamente. Devido a isso, agora já estou ciente do que se deve e não se deve fazer na minha próxima tentativa de cozedura. Quanto mais a gente faça, mais se aperfeiçoa. Mas isso só quando se faz o certo, evitando o errado.

FIM

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